sábado, 24 de outubro de 2009

Acordo ortográfico é ato colonial, diz escritor português

Por: Uol Notícias - Lusa
"O Brasil é o único país que recebeu a língua de fora e que impõe uma revisão da língua ao país matriz, como se os Estados Unidos impusessem um acordo ortográfico à Inglaterra", afirmou Sousa Tavares, criticando o fato de não ter havido uma consulta aos profissionais que trabalham com a língua, como os escritores, jornalistas e professores.

"Ninguém foi ouvido, o acordo foi imposto tanto no Brasil como em Portugal".

O escritor lembrou que um acordo exige reciprocidade, para afirmar em tom crítico que a reforma da ortografia foi "cozinhada entre acadêmicos que queriam se reunir e viajar".

"Não encontro escritores brasileiros que defendam o acordo", aponta.

Além disso, ele afirmou que não pretende mudar a sua forma de escrever e adverte que o Acordo Ortográfico vai "condensar e expurgar" muitos dos detalhes da diversidade linguística.

Lusofonia

Sousa Tavares duvida que os países africanos de língua portuguesa cumpram o acordo.

"Vão começar a rejeitar o português se nós os obrigarmos a seguir estritamente uma gramática que não lhes faz sentido nem ao ouvido, nem na escrita".

"Acho um projeto idiota, e pode ser prejudicial em muitos países. Querem unificar
o português em todo o mundo falante de língua portuguesa. Não vai ser em Portugal nem no Brasil porque temos 500 anos de trabalho e a nossa língua efectiva, mas em Angola apenas 10% fala bem português, o resto não fala", argumenta.

Sousa Tavares é também muito crítico sobre o conceito de lusofonia e a atuação da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

"Gastam imenso dinheiro aos contribuintes de Portugal e do Brasil e não é por aí que a lusofonia vai funcionar. Nós nunca faremos uma commonwealth nas relações econômicas. Na hora da verdade, o Brasil vai entrar em disputa com Portugal".

Para Sousa Tavares, a única forma de construir laços na lusofonia é a aproximação a partir de afinidades entre os povos, o que vai passar pela língua.

"Finalmente o que funcionará é a língua. A lusofonia passa muito pelas relações humanas que são mais importantes, elas é que vão determinar", afirmou ao destacar que hoje há "muito mais concorrência do que cooperação" no mundo lusófono.

O jornalista é autor de "Equador", um dos maiores sucessos de vendas da literatura portuguesa dos últimos anos e está no Brasil para apresentar seu novo romance e participar na Bienal Internacional do Livro no Rio de Janeiro.

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