sábado, 24 de outubro de 2009

A embriaguez do pré-sal

Por: Luiz Paulo Costa - O Estado de S. Paulo
Embriagado pelo pré-sal, o presidente Lula anuncia e a imprensa publica que vai proibir a expansão de canaviais. "O País detém hoje 7,8 milhões de hectares (78 mil quilômetros quadrados) de plantações de cana-de-açúcar. A previsão do governo é que essa área cresça 86% até 2017.

Para isso, serão necessários 6,7 milhões de hectares (67 mil quilômetros quadrados) extras para o cultivo", constata a jornalista Marta Salomon (Folha de S.Paulo, 17/9). A proibição se estende até as áreas destinadas pelos proprietários para outro tipo de produção agropecuária, mesmo que preserve a reserva legal.

O etanol é uma realidade brasileira que continua surpreendendo o mundo. A partir do desenvolvimento do motor a álcool no Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (CTA) do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), em São José dos Campos, que pontificou o pioneirismo do pesquisador Ernesto Stumpf, viabilizaram-se a expansão do etanol e o cultivo da cana-de-açúcar.

A necessidade de expansão dos canaviais, no entanto, é também uma resultante da falta de investimentos governamentais no aumento da produtividade do plantio e do próprio motor a álcool. No contexto internacional, em extensa análise sobre o setor energético, Jad Mouawad, colunista do The New York Times, observa o comportamento dos principais players internacionais do setor e extrai conclusões sobre o caminho das energias nos próximos 30 a 40 anos.

Segundo ele, "o governo Obama deseja reduzir o consumo de petróleo, aumentar os suprimentos de energia renovável e diminuir as emissões de dióxido de carbono, naquela que é a mais ambiciosa transformação da política energética no período de uma geração".

O governo Obama deseja investir US$ 150 bilhões (o mesmo que gastou a Nasa para levar o homem à Lua) nos próximos dez anos para criar aquilo que chama de "um futuro energético limpo". E já providencia a liberação de US$ 30 bilhões para o início desse programa. O seu plano tem como objetivo diversificar as fontes de energia do país ao encorajar o uso de mais fontes renováveis para reduzir o consumo de petróleo e as emissões de carbono oriundas dos combustíveis fósseis.

As gigantes mundiais do setor petrolífero nunca investiram significativamente no desenvolvimento dos programas de energia renovável. E desde 2007 estão retornando quase inteiramente ao petróleo e reduzindo os seus programas de energia renovável.

E aqui, no Brasil, também a Petrobrás - que chegou a investir bastante em propaganda para convencer os investidores e a opinião pública de que passou a ser uma empresa de energia e não só de petróleo e gás - usa o mesmo figurino, investindo muito pouco em fontes energéticas renováveis.

Talvez não seja motivo de surpresa o fato de a maioria dos investimentos em fontes alternativas de energia não vir dos cofres das companhias petrolíferas, acentua Jad Mouawad. A Exxon, uma das gigantes mundiais, por exemplo, prevê até 2050 que os hidrocarbonetos - incluindo petróleo, gás e carvão mineral - responderão por 80% dos suprimentos mundiais de energia, o que equivale aproximadamente ao patamar atual.

O etanol brasileiro tem sido um sucesso porque a iniciativa privada nele acreditou e investiu. Agora, com a embriaguez do pré-sal, o etanol vai ficar mais órfão dos órgãos públicos de fomento econômico-financeiro.

Porém, sem apoio governamental para aumentar a produtividade do cultivo da cana-de-açúcar por hectare, os proprietários de canaviais que ousarem expandir a área das plantações vão correr o risco de multas de até R$ 50 milhões, além da ameaça de bloqueio da sua produção e desapropriação de suas terras.

Por falta de investimento na otimização do uso do álcool combustível nos motores por meio da pesquisa e do desenvolvimento tecnológico, o consumo e a performance dos motores continuarão os mesmos de hoje.

O presidente Lula deve estar desgostoso por não ter conseguido derrubar as barreiras para a exportação do etanol brasileiro. E, assim, se afasta desse insucesso, trocando-o pelo petróleo do pré-sal, que poderá jorrar daqui a 15 anos. A evolução do contexto mundial, no entanto, sob a liderança dos Estados Unidos, poderá abrir as portas para o etanol brasileiro.

Apostar nele e em outras fontes de energia renovável já em uso no Brasil é pule de dez, é a realidade atual. E do presidente da República exige-se sobriedade nas decisões que afetam os milhões de brasileiros que nele acreditam e no futuro do Brasil, que é de todos.

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